A tristeza nos olhos de um menino bonito!

Caminhei de fones nos ouvidos até um café.
A minha alma estava tão distante que, distraidamente, eu sussurrava a letra de uma certa música de batida lenta, que acompanhava a minha respiração.
Cheguei por fim, àquele café velhinho de ar acolhedor e eu realmente não sei o que é mas, eu adorava-o.
Sentei-me na cadeira do costume, pedi o que sempre pedia, café com natas, e fechei os olhos.
A música mudou para uma mais mexida, a voz de um homem explodiu nos meus ouvidos e invadiu a minha cabeça, fez o meu coração bater depressa e a minha respiração tornar-se ofegante.  Engoli em seco e abri os olhos, ali estavas tu.
Sentado numa mesa ao canto, de cabeça baixa, olhar perdido no além, fixado nas tuas mãos que brincavam uma com a outra.
Sempre tive uma grande atração por rapazes bonitos, saia à minha bisavó cujo marido era aquele tipo de "rapaz perfeito": íris bem redondas e azuis do tom do mar, lábios carnudos e vermelhos, pele queimada pelo sol e cabelos loiros que, cortados perfeitamente exibiam o formato da sua cara. Por contrapartida, tu não te igualavas a este estereotipo de "rapaz perfeito". 
Tinhas cabelos castanhos puxados para cima, dando-te um ar jovem, sobrancelhas longas e bem definidas, lábios finos e olhos negros. Agradou-me o facto de não teres uma cara vulgar e de teres prendido, também, o meu olhar sobre ti durante tanto tempo. 
Distrai-me de tal modo que nem dei pelo café, que o empregado possou, cuidadosamente, sobre a mesa, tinha-me perdido a contornar a linha do teu pescoço; a descer pelas tuas costas; a aproximar-me das tuas pernas; a...Virei a cara para baixo, tinhas dado conta que olhava estupefata para ti à demasiado tempo. Por isso envergonhada, peguei no meu café e sai apressadamente, deixando o dinheiro na mesa.
Olhas-te para mim, eu senti. Uma menina sabe sempre quando um menino está a olhar.

Fiquei todo o dia a pensar em ti. No que estavas ali a fazer?! e O porquê de tanta tristeza nos olhos de um rapaz tão belo?! Porque eu consegui ver mesmo o teu ar de desolado, distante, envolvidos nos teus próprios pensamentos. 
A meio do dia, apeteceu-me correr de volta ao café, perguntar por ti, seguir direções, até te encontrar.
Chegou a um ponto do dia, em que eu pensava estar a dar em louca, como foi possível a minha alma se ter acorrentada a um menino desconhecido, como tu.
A verdade, é que no fim do dia, após toda a agitação, cai pesadamente sobre a cama.
Fechei os olhos e ali estavas tu. Estavas a sorrir. Aí eu adormeci.

-A.C.