.Eu.

De cabelos negros e curtos, olhos pequenos que se escondiam por entre uma armação rosa, de lábios carnudos que ao se abrirem revelavam o sorriso metálico, sobrancelhas bem marcadas, realçando o rosto fino e estreito. 
A menina olhou para mim e sorriu e aí eu vi os seus olhos esbanjarem tristeza.
14 anos depois dessa dia, eu percebi que ela distribuía sorrisos. Ela argumentava sobre tudo. Tinha sempre uma resposta para cada pergunta. Caminhava enquanto falava ao telemóvel. Olhava constantemente para o chão em momentos de grande tristeza. Não usava saias nem vestidos. Era feminista. Era muito alegre. Brincava com o cabelo. Sorria com covinhas. Ria com a mão na barriga. Elogiava constantemente. Sabia o valor da amizade. Nunca mentia. Acreditava num mundo belo e sem impossibilidades. Tinha amor a correr-lhe pelas veias. Por vezes dizia besteira contudo quem nunca disse?! 

Porém foi uma agonia saber de toda a dor que ela passava, saber que a menina vivia num mundo negro que ela própria criou.
Uma menina que parecia tão feliz, parecia tão alegre, parecia tão perfeita, uma menininha que parecia tão inocente.
Como ela conseguia roubar sorrisos tão facilmente se por dentro se massacrava?

Tinha amor a correr-lhe pelas veias o que eu não sabia é que o seu coração estava coberto de cicatrizes. 

-A.C.